Em sua participação no XVIII CONPARH, a executiva de pessoas, cultura e transformação Mafoane Odara proferiu uma palestra instigante sobre “Humanidade 5.0: liderar e inovar na era da inteligência artificial”. A apresentação propôs um debate essencial: como garantir que a tecnologia sirva para potencializar as capacidades humanas, em vez de substituí-las. O cerne de sua mensagem é que a Inteligência Artificial (IA) “deve ser usada para fortalecer as habilidades humanas, como a criatividade, a intuição e a empatia, e não para automatizar completamente as tarefas”.
Mafoane enfatizou a importância da comunicação e das relações humanas como o próximo grande salto evolutivo. “A próxima revolução que viveremos é a revolução das relações.” Ela destacou que “não existe desenvolvimento que não passe pelas relações” e que o “senso de pertencimento é crucial no ambiente de trabalho, onde nove dos dez fatores para que as pessoas se sintam vistas, ouvidas e valorizadas têm a ver com tratamento”.

A palestrante diferenciou linguagem (o sistema geral de comunicação humana) de língua (sistema específico dentro da linguagem). A comunicação não se resume a palavras: 93% do que é comunicado está no tom de voz (35%) e na linguagem corporal (57%). Mafoane defendeu a comunicação não violenta como mediadora, afirmando: “Aprendemos a sustentar a tensão com violência, mas é a palavra o mediador que melhor conversa com as tensões da vida e com as tensões de uma sociedade brasileira.” Para ela, “toda agressão é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida. A linguagem, portanto, pode ser construtora de pontes ou construtora de muros.”
Liderança no caos
A sociedade vive uma transição do mundo moderno (vertical e previsível) para o mundo contemporâneo (horizontal, múltiplo, colaborativo e arriscado) — um movimento que gera crises e exige novos líderes. “O mundo será cada vez mais caótico, forçando líderes a terem leitura de ambientes e coragem para decisões não lineares.” Mafoane propôs usar o caos como “campo fértil para inovação”.
A liderança contemporânea, em um ambiente de “oito gerações trabalhando ao mesmo tempo” (o conceito de Perennials), precisa ser capaz de transitar entre elas. A palestrante citou Rich Norton para desafiar a zona de conforto e a inércia: “Algumas pessoas dizem ter 20 anos de experiência quando, na verdade, têm um ano de experiência repetido 20 vezes.” Para combater isso, ela incentivou a “manter sua cabeça de cientista e mudar de código sem perder a autenticidade”.

Humanidade no centro
Em um toque pessoal e poderoso, Mafoane teceu sua jornada com a mensagem central: “Ativismo é esperança em movimento. Histórias mudam histórias.” Ao abordar a superação de discriminações e a busca por ambientes seguros, ela ressaltou a responsabilidade de melhorar o mundo e o poder da autoafirmação. Compartilhou ainda o pacto de crianças não sofrerem discriminação.
O foco em resultados no mundo corporativo deve ser equilibrado com as soft skills, que se tornam diferenciais claros para vantagens competitivas. As competências cruciais da liderança contemporânea convergem para: “inteligência relacional, diversidade e inclusão, capacidade científica e analítica, inovação, criatividade e gestão de resultados.”
A visão de futuro de Mafoane é clara: o sucesso dependerá da capacidade de navegar na complexidade sem perder de vista o ético, a colaboração e o contexto social. A IA deve ser aliada para que as pessoas se concentrem em trabalhos que exigem “pensamento crítico, criatividade e relacionamento humano” — justamente os domínios em que o valor da inteligência humana é insubstituível.
Finalmente, ela destacou o poder da humildade e da empatia. “Na empatia não cabe julgamento, imposição ou conselho sobre o que o outro deve fazer.” O planejamento deve ser feito com intencionalidade e legado em mente. “Planejar o fim é, no fundo, honrar o começo — preparar-se para o que vem, dedicar-se a construir relações e desenvolver o pensamento.”

O chamado é para a coragem: “Não negligenciem o poder da história que vocês têm, pois é preciso aceitar a divergência e o conflito, buscando consensos e o compartilhamento de responsabilidades.”
Texto: Básica Comunicações
Fotos: Leandro Provenci e Gian Galani