A relevância de integrar diversidade, inclusão e responsabilidade social como pilares essenciais das organizações foi o tema central da palestra de Mirella Prosdócimo (conselheira do Comitê Paralímpico Brasileiro) e do desembargador Ricardo Tadeu (juiz do TRT-PR) no XVIII CONPARH, com moderação de Leia Cordeiro. Os especialistas convergiram na necessidade de uma mudança de perspectiva, deixando o assistencialismo e a obrigação legal para trás.
Mirella, que tem mais de 20 anos de atuação na área e é tetraplégica, destacou a importância de as pessoas com deficiência se sentirem parte da organização. Ela defende que a inclusão deve ser vista de maneira estratégica, fazendo parte do DNA da empresa e da cultura das pessoas. Criticou o modelo em que a pessoa com deficiência ainda é vista como peso, em vez de ter seu enorme potencial reconhecido. A deficiência, segundo Mirella, é apenas uma característica e não define o indivíduo, que possui talentos a serem explorados.

Mudança de olhar
Para que essa transformação ocorra, é preciso mudar o olhar. A liderança deve sair do pedestal e do medo de errar, abrindo espaço para perguntar de que forma pode ser auxiliar e o que é necessário fazer para incluir de verdade. Mirella reforça que o desejo é “ser olhados não como coitadinhos, mas fazer a nossa parte, estarmos em todos os lugares, nos fazer presentes e cobrar nossos direitos”, citando o potencial do Brasil, “sexto lugar no mundo em medalhas” nas Paralimpíadas. Ela também observou que, infelizmente, as pessoas com deficiência ainda enfrentam diariamente o capacitismo da sociedade.
O desembargador Ricardo Tadeu, que perdeu a visão aos 23 anos, complementou a discussão remetendo à Convenção de Nova York sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Ele salientou que a deficiência não está na pessoa, mas sim nas barreiras impostas pela sociedade que impedem a participação plena. O magistrado, que se considera “muito produtivo” apesar da “limitação instrumental”, observou o estigma cultural do capacitismo no Brasil, contrapondo-o à visão assistencialista e deletéria — em contraste com países como os Estados Unidos, que acolhem seus cidadãos com deficiência, em parte, em razão das guerras e da retribuição ao esforço de seus heróis de combate.

Desconhecimento e estigma
Ricardo Tadeu frisou que a inclusão é “uma estratégia e um valor, e não um tema isolado”, e que “a maior riqueza da condição humana reside nas nossas diferenças, que também nos irmanam”. Ele defendeu que as empresas devem divulgar o aspecto positivo da inclusão, uma vez que seus impactos são claros, tanto no campo econômico quanto no social. Para o juiz, a aceitação do outro evita erros na gestão de pessoas e favorece as relações de consumo, sendo a pluralidade uma vantagem competitiva. “O principal obstáculo, no entanto, ainda é o desconhecimento e o estigma da invisibilidade, do preconceito e do capacitismo”, pontuou.
Ambos os palestrantes concordaram que transformar a diversidade em valor estratégico é um desafio fundamental para a sustentabilidade. Mirella concluiu que “não se trata apenas de ter programas, mas de reconhecer que a pluralidade de pessoas, histórias e perspectivas é parte essencial da sustentabilidade e da longevidade de qualquer negócio”.
O desembargador, por sua vez, resumiu a essência da inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho como “meramente instrumental. Dados estes instrumentos, o trabalho se perfaz”.
Os participantes destacaram ainda que o RH é o elo fundamental capaz de quebrar paradigmas e eliminar o capacitismo dentro do ambiente corporativo. “Estabelecer essa ponte entre as pessoas com deficiência e a cúpula das empresas significa garantir que as necessidades e perspectivas diversas promovam representatividade em todos os níveis — especialmente na liderança.”
Outros painéis também foram realizados de forma simultânea:
– Cultura Organizacional como instrumento de engajamento – papel do Lider – Marcelo Cardoso (fundador Chie) e Alexandre Marins (Diretor de Desenvolvimento de Talentos da LHH na América Latina)
– Longevidade Intencional – Protagonizando seu futuro –
Silvia Triboni (consultora e especialista em lonegevidade) e Morris Litvak (CEO Maturi)
– A Felicidade como Estratégia de Gestão: caminhos para Organizações mais humanas – Michelle Taminato (CEO CollabSul) e Cristiano Venâncio (CEO Ora Estratégia)
– Liderança Presente: Escuta, Protagonismo e Pertencimento em tempos de dispersão – Álvaro Fernando (escritor) e Daniel Spinelli (empreendedor, palestrante e mentor)
XVIII CONPARH
O XVIII Congresso Paranaense de Recursos Humanos (CONPARH) está acontecendo nos dias 22 e 23 de outubro, no Viasoft Experience, em Curitiba. São cerca de 2 mil congressistas, mais de 70 palestrantes nacionais e internacionais. O evento conta com uma Feira de Negócios gratuita, Mini Arena, Sala Imersiva e espaço para lançamento de livros.
Em meio à ascensão da inteligência artificial, o evento reforça que o verdadeiro diferencial das organizações continua sendo aquilo que nenhuma tecnologia substitui: empatia, criatividade, intuição e capacidade de dar sentido. Um chamado para reafirmar que o futuro será tão inovador quanto for humano.
Texto: Básica Comunicações
Fotos: Leandro Provenci e Gian Galani