O professor, pesquisador e palestrante Alexandre Pellaes cativou o público no Auditório Alelo durante o XVIII CONPARH com uma palestra bem-humorada, porém profunda, sobre a “Liderança Humanizada” e a redefinição do significado do trabalho. Segundo Pellaes, o futuro não é um destino, mas uma construção ativa que exige um novo olhar para a relação entre o indivíduo, a liderança e as organizações.
Pellaes iniciou a conversa abordando a transformação na essência do que significa trabalhar. “A forma como enxergamos o trabalho está mudando, e essa transformação reflete uma reconfiguração profunda do significado que ele ocupa na nossa identidade individual.” Ele destacou que o trabalho, antes visto como uma simples troca de tempo por remuneração (lógica do “ter”), migra para a lógica do “ser”, em que a pessoa busca reconhecimento, crescimento e propósito.
Para Pellaes, a complexidade da Liderança Humanizada pode ser estruturada em quatro dimensões interligadas de atuação. A primeira delas, o Nível do Indivíduo/Comunidade, foca no desenvolvimento pessoal essencial para a tomada de decisão, que inclui autoconhecimento, autogestão evolutiva, flexibilidade/adaptabilidade e inteligência emocional. A segunda dimensão, o Nível de Relacionamento, trata da interação interpessoal do líder, englobando a capacidade de inspirar e motivar, comunicação eficaz, empatia e a capacidade de delegar. Em seguida, o Nível de Negócios é o campo de aplicação prática da liderança, abrangendo excelência técnica, protagonismo estratégico e a habilidade de “causar tensão positiva” para impulsionar a inovação. Por fim, a dimensão das Grandes Mudanças aponta que o novo modelo de liderança deve ser capaz de responder ativamente às transformações estruturais do mercado em quatro pilares: Pessoas, Liderança, Organizações e Tecnologia.

Autonomia natural
Um ponto alto da palestra foi a distinção entre trabalho e emprego. Pellaes definiu o trabalho como um elemento essencial do ser humano. “Trabalho de viver é a nossa relação do mundo com a vida — mostro o que sou para o mundo, o que eu sou.” Ele enfatizou que “trabalho sempre é uma intenção humana” e está ligado à capacidade de projetar futuros.
O palestrante criticou a “meteronomia” (obediência, medo, submissão) que ainda domina o mundo corporativo, em detrimento da autonomia natural (intenção, criatividade, busca por recursos, expressão de si). “O que você faz fala tão alto que eu não consigo escutar uma palavra do que você diz”, citou, reforçando que “trabalho nunca é só trabalho. O trabalho também é quem você se torna ao realizá-lo e a marca que deixa nas outras pessoas”, observou.
Pellaes contrastou os modelos de liderança tradicional. Ele descreveu a liderança nociva (comando e controle, trabalho sob pressão) e a liderança empobrecida (líder ausente e distante) como heranças de um modelo de gestão clássica voltado à obediência. A mudança de paradigma, segundo ele, reside na valorização do líder interessado, em oposição ao líder interessante.

“Uma maneira simples de compreender a mudança de paradigma da liderança é reconhecer a valorização do líder interessado, em vez do líder interessante”, afirmou.
O líder interessado é definido por características como foco no desenvolvimento da equipe, preocupação com o impacto real, disponibilidade, construção de relações de confiança, capacitação e uso do feedback como ferramenta de desenvolvimento.
O palestrante concluiu afirmando que só serão bem-sucedidas as organizações que consigam, em algum nível, ser vistas como plataformas de desenvolvimento humano e construção de legado. A Liderança Humanizada, com sua missão de equilibrar negócios e pessoas, é a competência crítica para construir esse futuro, exigindo dos líderes novas habilidades como autoconhecimento, escuta ativa e foco em resultados baseados em relações saudáveis. “Só serão bem-sucedidas as organizações que consigam, em algum nível, ser vistas como plataformas de desenvolvimento humano e construção de legado.”
Texto: Básica Comunicações
Fotos: Leandro Provenci e Gian Galani